A crescente adoção da inteligência artificial para elaboração de petições nos juizados especiais tem gerado debates importantes sobre o acesso à justiça e os limites da tecnologia na advocacia. Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça decidiu manter no ar um site que oferece petições feitas por inteligência artificial, negando o pedido da OAB do Rio de Janeiro de suspender a plataforma. Essa decisão marca um novo momento para o uso da inteligência artificial no campo jurídico, especialmente no que diz respeito às causas de pequeno valor.
O uso da inteligência artificial para petições nos juizados especiais promove a democratização do acesso à justiça, permitindo que cidadãos sem conhecimento jurídico possam ter seus direitos encaminhados ao Judiciário de forma mais simples e eficaz. A ferramenta facilita a organização dos fatos e a elaboração dos pedidos, ajudando a ampliar o acesso ao sistema judicial. A decisão do STJ reconhece que, para causas de até vinte salários mínimos, a assistência obrigatória de advogado não é necessária, o que torna o uso da inteligência artificial ainda mais relevante.
Por outro lado, a controvérsia envolvendo a plataforma que oferece petições feitas por inteligência artificial evidencia as preocupações da Ordem dos Advogados do Brasil, que vê nesse tipo de serviço um risco à ética profissional e à mercantilização da advocacia. A OAB-RJ argumenta que o serviço representa exercício ilegal da profissão, uma vez que a elaboração de petições deve ser exclusiva de profissionais habilitados. No entanto, a corte entendeu que a plataforma atua dentro da legalidade, auxiliando em processos que não exigem obrigatoriamente a presença de um advogado.
A decisão do STJ demonstra um entendimento inovador, onde a inteligência artificial é vista como um instrumento para facilitar o acesso ao Judiciário, sobretudo para populações com menor grau de instrução. A possibilidade de utilizar ferramentas tecnológicas para criar petições nos juizados especiais pode reduzir barreiras econômicas e burocráticas, ampliando o alcance dos direitos. Além disso, a cobrança pelo serviço é considerada razoável e não se equipara a honorários advocatícios, reforçando a distinção entre o trabalho profissional e o suporte tecnológico.
No entanto, o uso da inteligência artificial na advocacia ainda enfrenta desafios, principalmente relacionados à qualidade e à responsabilidade sobre as petições produzidas. Casos recentes mostraram que documentos gerados por IA sem revisão adequada podem conter erros e até informações falsas, prejudicando processos judiciais e causando transtornos para o sistema jurídico. Esse cenário reforça a necessidade de regras claras e mecanismos de controle para o uso de inteligência artificial em atos processuais.
Outro ponto relevante é a reação do Judiciário frente a novas tecnologias, como o caso de um advogado que utilizou uma voz robotizada para sustentar oralmente seu argumento em tribunal, causando desconforto entre os magistrados. Esses episódios indicam que a adaptação à tecnologia deve ser acompanhada de normas que garantam o respeito aos ritos processuais e à seriedade das audiências. Assim, a inteligência artificial deve ser incorporada de forma equilibrada e responsável.
A manutenção do site que vende petições feitas por inteligência artificial reafirma a tendência de transformação digital na advocacia e nos serviços jurídicos. A decisão do STJ aponta para a inevitabilidade do avanço tecnológico e a importância de encontrar um meio-termo entre inovação e respeito às normas jurídicas. O debate seguirá, mas a inteligência artificial nos juizados especiais já se mostra uma ferramenta que pode contribuir para a justiça acessível e eficiente.
Em resumo, o uso da inteligência artificial para petições nos juizados especiais é um tema atual e relevante que envolve aspectos jurídicos, éticos e sociais. A decisão do Superior Tribunal de Justiça de negar o pedido da OAB-RJ e manter a plataforma em funcionamento simboliza um passo importante para o reconhecimento da tecnologia como aliada no acesso ao Judiciário. A inteligência artificial tem potencial para transformar a advocacia, desde que seja usada com responsabilidade e dentro dos parâmetros legais estabelecidos.
Autor: Ivern Moral